A inteligência artificial (IA) está rapidamente transformando todos os setores da sociedade moderna, incluindo a educação. Com seu crescimento exponencial de novas ferramentas, todos os setores do mercado estão descobrindo como tirar o melhor proveito das novas tecnologia.
Junto com toda a empolgação, deve haver um olhar crítico e de preocupação quanto o impacto dessas rápidas mudanças. Tratei do assunto em uma breve conversa com jornalista de tecnologia do Portal UOL.
Em seu recente discurso de abertura no UC Berkeley AI Awards Hackathon, o cofundador da OpenAI, Andrej Karpathy, aconselhou os alunos a não desistirem de seus projetos e falou sobre sua startup de educação chamada Eureka Labs.
“É um novo tipo de escola nativa de IA, que combina IA generativa com métodos de aprendizagem tradicionais”, disse Karpathy no vídeo disponível no Youtube.
O ex-pesquisador da OpenAI disse que há uma escassez de professores na área e, com sua nova startup, a Eureka Labs, ele está procurando enfrentar o desafio.
Karpathy acredita que a IA generativa melhorará significativamente a experiência de aprendizagem. “O professor ainda é responsável por criar os materiais do curso, que são então apoiados, ampliados e otimizados por um Assistente de Ensino de IA, projetado para guiar os alunos através do conteúdo”, explicou. Assistentes de IA personalizados serão uma realidade no futuro. Expandindo essa ideia para a educação, logo poderemos ter tutores de IA personalizados que ensinam os alunos de acordo com suas necessidades e capacidades de compreensão.
O fundador da Khan Academy, Salman Khan, recentemente expressou sentimentos semelhantes, afirmando que tutores pessoais são essenciais. “Alexandre, o Grande, teve Aristóteles como seu tutor pessoal”, comentou, sugerindo que a IA generativa proporcionará o mesmo para todos os estudantes ao redor do mundo. “É assim que a educação de classe mundial deve ser.”
No ano passado, a Khan Academy lançou o Khanmigo, um tutor pessoal e assistente de ensino alimentado pela tecnologia GPT-4. Durante o ano acadêmico atual, 65.000 alunos e professores testaram o Khanmigo em distritos escolares dos EUA.
“Ele age exatamente como Aristóteles ou Sócrates fariam com seus alunos e funciona em todas as disciplinas que a Khan Academy oferece. Ele tem todo o contexto que o aluno normalmente teria na Khan Academy, e também atua como um assistente de ensino para professores”. “Ele lembraa conversa que você está tendo. Ele também lembra de parte do trabalho que você tem feito na Khan Academy” – Salman Khan
Khan afirmou que o foco da Khan Academy é fornecer suporte personalizado tanto para professores quanto para alunos. “Com a nova geração de modelos como o GPT-4, desenvolvemos uma tese: um tutor para cada aluno e um assistente de ensino para cada professor.” Recentemente, a Khan Academy fez uma parceria com a Microsoft para utilizar o Phi-3 na criação de tutores de matemática baseados em IA.
Da mesma forma, no início deste ano, a OpenAI lançou o ChatGPT Edu, uma versão do ChatGPT projetada para universidades, visando implementar a IA de forma responsável para alunos, professores, pesquisadores e operações de campus.
Na Índia, a startup de edtech Physics Wallah lançou recentemente o Alakh AI , com o AI Guru — um tutor e assistente personalizado 24 horas por dia, 7 dias por semana. O AI Guru atende a diversas consultas, de acadêmicas a não acadêmicas, relacionadas a produtos e questões de suporte, fornecendo respostas em formatos de texto e vídeo adaptados às necessidades de cada aluno.
No Brasil, o governo de São Paulo está sendo pioneiro na implementação de ferramentas com IA na elaboração de aulas digitais. O governador Tarcísio de Freitas disse que a ferramenta será um “facilitador” na produção das aulas, e negou que irá substituir o papel do professor em sala de aula.
“Você pode usar uma ferramenta que pode facilitar o esforço inicial, mas isso vai passar pela revisão, vai passar pelo olhar, vai passar pela inteligência dos nossos professores. Nós temos excelentes conteudistas, nós temos excelentes profissionais. Eu acredito muito na melhoria da qualidade do ensino”
Críticos como Carlota Boto, diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, dizem que o uso da ferramenta “impede a liberdade criativa dos alunos” e demonstra preocupação na troca da alfabetização das crianças via computador, retirando elas do caderno.
Pouco se fala dos reais desafios da implementação de uma arquitetura que não interfira na formação do tecido social das próximas gerações, que tenha uma infraestrutura tecnológica de qualidade, que seja cooperativa a ação humana quebrando possíveis resistências as mudanças e que tenha preocupação com privacidade e segurança dos dados de alunos e docentes.